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A Esquerda está Morta! Vida Longa à Esquerda!

[English]

Adversidades da consciência histórica e possibilidades para uma política social emancipatória hoje: A Esquerda está Morta, Vida Longa à Esquerda!

Chris Cutrone

“A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos.”

Karl Marx, O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852)

“O teórico que intervém em controvérsias práticas hoje descobre regularmente e para sua lástima que quaisquer ideias que ele possa contribuir foram expressas muito tempo atrás – e normalmente melhor da primeira vez.”

– Theodor W. Adorno, “Tabus Sexuais e a Lei Hoje” (1963) [tradução livre]

De acordo com Lênin, a maior contribuição da Marxista radical Rosa Luxemburgo (1871-1919) para a luta pelo socialismo, foi a declaração que seu Partido Social Democrático da Alemanha tinha se tornado um “cadáver fedorento” como resultado da votação por créditos de guerra em 4 de agosto de 1914. Lênin escreveu isso sobre Luxemburgo em 1922, no fim do período da guerra, revolução, contrarrevolução e reação na qual Luxemburgo foi assassinada. Lênin observou que Luxemburgo seria lembrada pela sua crítica incisiva em um momento crucial de crise no movimento ao qual ela se dedicou e por fim deu sua vida. Ao contrário, ironicamente, Luxemburgo tem sido lembrada – pelas suas críticas ocasionais a Lênin e aos Bolcheviques.

Duas lições podem ser levadas dessa história: que a Esquerda sofre, como resultado dos destroços acumulados das derrotas e falhas interventoras, de uma memória muito parcial e distorcida de sua própria história; e que em momentos cruciais, o melhor trabalho da Esquerda é sua própria critica, motivada por tentativas de escapar dessa história e seus resultados. Em certos momentos, a contribuição mais necessária que alguém pode fazer é de que a Esquerda está morta.

Portanto, a Platypus proclama, em nosso tempo: “A Esquerda está morta! – Vida longa à Esquerda” – Dizemos isso para que haja a possibilidade futura de que a Esquerda possa viver.

A Platypus começou em dezembro de 2004 como um projeto para um jornal internacional de cartas críticas e políticas emancipatórias, concebido por um núcleo de estudantes do professor Moishe Postone da Universidade de Chicago, que tinha estudado e escrito sobre a madura teoria crítica de Marx no Grundrisse e O Capital pela imaginação de uma sociedade pós-capitalista desde 1960.  

A Platypus se desenvolveu e cresceu no primeiro semestre de 2006 se tornando um grupo de estudos com estudantes interessados em seguir a aquisição de uma teoria crítica Marxista. A Platypus Sociedade Afiliada é uma organização política estabelecida recentemente (em dezembro de 2006) buscando investigar as possibilidades para reconstituir uma Esquerda Marxista depois da derrota da Esquerda Marxista histórica.

Nós tiramos nosso nome do ornitorrinco [platypus, em inglês], que sofreu em seu momento de descoberta zoológica por ser inclassificável de acordo com a ciência prevalente na época. Nós pensamos que uma Esquerda emancipatória autêntica hoje sofreria pelo mesmo problema de falta de reconhecimento, em parte porque as tarefas e o projeto por uma emancipação social se desintegraram, e para nós, só sobraram fragmentos e estilhaços.

Nós crescemos de aproximadamente uma dúzia de estudantes e professores da pós-graduação, para mais de trinta alunos da graduação e pós-graduação, além de outros, da comunidade de Chicago e além (por exemplo, desenvolvendo membros correspondentes em Nova Iorque e Toronto).

No início, trabalhamos com vários grupos da Esquerda em Chicago e além, dando workshops sobre a Esquerda Iraquiana para a conferência da nova SDS sobre a ocupação do Iraque em Chicago em fevereiro. Em janeiro, começamos a primeira serie de fóruns públicos da Platypus em Chicago, no tópico do “imperialismo” e a Esquerda, incluindo panelistas como Kevin Anderson da Notícias e Cartas (Marxistas Humanistas), Nick Kreitman, da organização Estudantes por uma Sociedade Democrática (SDS – em inglês Students for a Democratic Society) fundada novamente, Danny Postel da OpenDemocracy.net, e Adam Turl da Organização Socialista Internacional (ISO)

Nós temos organizado nossa investigação crítica na história da Esquerda para ajudar discernir entre possibilidades para a emancipação social no presente, um presente que tem sido determinado pela história da derrota e falha da Esquerda. Como aspirantes atrás de uma legacia altamente problemática da qual estamos separados por uma distância histórica definida, nós estamos dedicados a abordar a história do pensamento e ação da Esquerda de onde devemos aprender em uma maneira deliberadamente não-dogmática, aceitando nada como dado.

Por que Marx? Por que agora? Achamos que o pensamento de Marx é um ponto focal e um centro nervoso vital para a crítica fundamental do mundo moderno no qual ainda vivemos imergidos no tempo de Marx com a Revolução Industrial do século XIX. Pegamos o pensamento de Marx em relação tanto à história precedente do pensamento crítico social, incluindo a filosofia de Kant e Hegel, assim como os escritos daqueles que mais tarde se inspiraram a seguir Marx na crítica da modernidade social, mais proeminentemente, Georg Lukács, Walter Benjamin, e Theodor W. Adorno. Portanto, a Platypus é comprometida com a reconsideração completa de uma tradição teórica crítica vinda dos séculos XIX e XX. Como Leszek Kolakowski colocou (em seu ensaio de 1968, “O Conceito da Esquerda”) que a Esquerda deve ser definida ideologicamente, e não sociologicamente; pensamento, não a sociedade, é dividida entre Direita e Esquerda: a Esquerda é definida pelo seu caráter utópico, a Direita pelo seu oportunismo. – Ou como o Robert Pippin colocou, o problema com a teoria crítica de hoje é que ela não é crítica (Critical Inquiry, 2003).

A Platypus é dedicada a reabrir várias perguntas históricas da Esquerda para ler a história “a contrapelo” (como Benjamin colocou, em sua “Teses na História da Filosofia, 1940), tentando captar momentos passados de derrota e falha da Esquerda não como dado, mas sim no seu potencial não realizado, vendo o presente como o produto não de uma necessidade histórica, mas como o que aconteceu que não necessitava ter acontecido assim. Nós lutamos para escapar da mão morta de pelo menos duas gerações precedentes de ação e pensamento problemático da Esquerda, entre 1920 e 1930, e entre 1960 e 1970... Melhor dito, sofremos os efeitos da despolitização – o abandono “pós-moderno” deliberado de qualquer “narrativa grandiosa” sobre emancipação social – na Esquerda entre os anos 80 e 90.

Mas a “tradição” da “geração morta” que “pesa” mais fortemente como um “pesadelo” em nossas mentes, é aquela da Nova Esquerda de 1960, especialmente em sua historia anti-Bolchevista – expressada tanto pelas alternativas complementares ruins do anticomunismo Stalinofóbico (do liberalismo da Guerra Fria e a social democracia) e a “militância” Stalinofílica (por exemplo, Maoísmo, Guevarismo, etc) – que levou à naturalização da degeneração da Esquerda em resignação e abdicação, originando na resposta inadequada da “nova” Esquerda dos anos 60 aos problemas da “velha” esquerda do pós década de 20 e 30. Na nossa estimação, a Nova Esquerda de 1960 permaneceu em dívida ao Stalinismo – incluindo a mentira de que Lênin levou à Stalin – para o detrimento das possibilidades para políticas emancipatórias até hoje.

Tentando ler essa história do acelerado colapso e auto liquidação da Esquerda após os anos 60 “a contrapelo”, enfrentamos um problema discutido por Nietzsche em seu artigo “Sobre o Uso e Abuso da História para a Vida” (1873):

“Uma pessoa deve ter o poder e de tempos em tempos usá-lo para quebrar o passado e dissolvê-lo, para poder viver... Pessoas ou épocas servindo a vida dessa forma, julgando e destruído o passado, são sempre perigosas e em perigo... É uma tentativa para dar a si mesmo, como se fosse, um passado depois dos acontecidos, de onde nós podemos estar descendendo em oposição àquele do qual somos descendentes.” [tradução livre]

Porém, como Karl Korsch escreveu em “Marxismo e Filosofia” (1923):

“Marx, no prefácio à Crítica da economia política, diz sobre a humanidade em geral, ou seja, que ela [...] só se propõe as tarefas que pode resolver, pois, se considerado mais atentam ente, chegar-se-á à conclusão de que a própria tarefa só aparece onde as condições materiais de sua solução já existem, ou, pelo menos, são captadas no processo do seu devir. E a questão não se altera em nada se uma tarefa que transcende as condições atuais já encontrou sua expressão teórica numa época precedente.” [Karl Korsch, “Marxismo e Filosofia” Marxismo e Filosofia (Editora UFRJ, 2008), 39]

Como Adorno escreveu, em Dialética Negativa (1966):

“A liquidação da teoria por meio da dogmatização e da interdição ao pensamento contribui para a má prática… A relação recíproca entre os dois momentos não é decidida de uma vez por todas, mas se altera historicamente... Quem condena a teoria como anacrônica obedece ao topos segundo o qual é preciso eliminar como antiquado aquilo que continua fazendo mal enquanto algo frustrado... O fato de a história passar por cima de certas posições só é honrado como um juízo sobre o seu conteúdo ve- ritativo por aqueles para os quais a história é o tribunal do mundo. Com muita frequência, aquilo que é eliminado sem ter sido teoricamente absorvido só li- bera mais tarde o seu conteúdo veritativo. Esse conteúdo torna-se a fraqueza da saúde dominante; aquilo que nos conduz sempre uma vez mais a isso em situações modificadas.” [Theodor W Adorno, Dialética Negativa (Jorge Zahar, 2009), 125-126]

A Platypus está preocupada em explorar as improváveis, porém não impossíveis, tarefas e o projeto da re-emergência de uma Esquerda crítica com intenções sociais de emancipação. Ansiamos por fazer uma contribuição crítica, porém vital para um possível “retorno a Marx” para o potencial revigoramento da Esquerda nos próximos anos. Nós convidamos e acolhemos aqueles que desejam participar e contribuir a esse projeto.